segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A Bazófia Farrapa

A Bazófia Farrapa
(Beto Ayres)
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Como a aurora precursora
de uma total falta de honestidade
Foi esse vinte de setembro
apenas e nada mais que uma bazófia, uma inverdade...
Mostremos a ignorância
e a falta de amor à terra
Que sirvam essas façanhas
de mau exemplo do horror da guerra.
Sejam nossos "heróis" farrapos lembrados
como "heróis" revolucionários,
e sejam seus ideais iluministas
mascarados na nossa história.
Valorosos, corajosos e briosos "idealistas",
Esses estancieiros, ricos, bem alimentados,
que de longe viam os rios vermelhos do sangue
dos seus escravos.
Vamos celebrar a glória e a honra
desses senhores do charque; desses capitães e generais gordos,
tão bem alimentados;
valorosos, corajosos e briosos,
que abriam mão de seus valetes,
de seus bugres, de seus escravos descalços...
Que corajosamente viam os rios
do sangue de seus vassalos.
Vamos celebrar, vamos honrar esses "modelos"
gordos e estereotipados;
e vamos honrar sua glória briosa
construída sob seu jugo, com os ossos dos bugres e escravos.
Vamos honrar Bento e Neto, generais congratulados,
que viam por cima a batalha
dos negros, bugres e mulatos.
Vamos lembrar para sempre
dos estancieiros ricos de enfado;
desses senhores do charque que comandam
ainda hoje o Estado.
Nem menos briosos que os coronéis do sertão,
que os fidalgos da Vila Rica;
Porém, mais valorosos que os ralos soldados sem botas,
que morriam em seu nome.
Vamos honrar esses degoladores, bestialmente engenhosos;
vamos honrar seu talento - de estripar o mais fraco.
São como o nosso exército, que se orgulha de más contagens:
Dizem do Araguaia que foi campanha, vencida com brio e coragem;
como se guerra fora... E não um massacre... Covarde.
Contam Canudos na conta, como glória para os dois lados...
E não como genocídio - um triunfo da barbárie!
Vamos cantar seus feitos, tão cheios de valor e garbo;
e deixemos de lado a ralé, descartemos os vazios porongos...
Não são estes baluartes! Não!
Os exemplos serão para sempre os generais,
estancieiros, gordos, tão bem alimentados...
O que é um negro escravo, descalço, com medo? Nada!
O que é um bugre sujo e roto? Outro nada!
O que são meia dúzia de escravos? Temos tantos!
O que são estes filhos sem terra, de mulheres violentadas?
Que valor tem a china do peão? A china do pobre? Nada!
Valor mesmo tem a china "italianada"!
Valor mesmo tem esses estandartes, patrões valorosos, dourados...
Generais, coronéis, capitães - exemplos brancos e ricos,
sabidos e por todos reverenciados.
Que se deixe a negralha morrer - nas lanças dos federados.
Deixe-se o bugre e o índio, e outros gaúchos de lado!
Que importam eles a nós? Niente!
De que servem esses rotos danados? Andiamo!
"Revolução" se faz com patrão! Rico, gordo, bem alimentado;
valente e degolador de cada negro aprisionado;
de cada mulato sem rumo, sem cobres, sem nada!
Vivamos a Revolução! - Dos burgueses iluministas!
Dos gordos filhos do Estado!
Mas o que será deste negro? Deste bugre? Deste enfado?
À degola prontamente! Serviu à causa o farrapo...
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(Minha "homenagem" à esse movimento burguês, de ricos e para ricos, que usou os pobres e os escravos em nome de um falso ideal de liberdade - o Iluminismo - o regime dos ricos que mandam nos pobres, e que prega nada mais que o Capitalismo como é hoje. Exatamente igual. Mas sem nunca - jamais! - abrir mão do trabalho escravo.)

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Postado no Facebook em 19 de setembro de 2015.

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